Quando tinha seis anos fui para a escola. Para a época e a região onde morava ainda era muito nova para a empreitada, mas como não deixava minha mãe em paz querendo aprender a ler ela conseguiu que a professora, minha prima, me aceitasse. Ia para lá como se estivesse indo para um parque de diversões. Não usávamos uniformes, o que preservava nossas características individuais. Éramos todos filhos de lavradores simples em uma comunidade denominada Toledos, pertencente ao município de Piraúba, MG. A escola possuía apenas duas salas de aula, uma para primeira e segunda séries e outra para terceira e quarta.
Ana Lúcia foi minha única professora nesta escola. Achava que ela era a mulher mais linda e bondosa do planeta. Não possuía materiais didáticos diversificados ou qualquer recurso sofisticado, na verdade a escola não possuía nem energia elétrica. Mesmo assim aprendíamos! A professora tinha um dom especial de hipnotizar os alunos e assim colaborar com nossa aprendizagem. Para ensinar nossos nomes escrevia-os em pequenos cones feitos de papel ofício e colocava-os em nossas mesas para que pudéssemos visualizá-los. Dividia a sala em duas. De um lado os meninos maiores da segunda série e do outro os menores da primeira. Para todos havia formas diversificadas e lúdicas de ensinar, das quais não me lembro mais, mas tenho certeza que foram fundamentais em minha formação e na de meus amigos.
O que me lembro com maior clareza eram os dias de festa. Havia danças, comidas típicas e roupas especiais eram costuradas. Nestes dias comprávamos chicletes em uma vendinha próxima e íamos mastigá-los escondidos atrás da escola. Nossos pais haviam nos dito que eram venenosos e que não podíamos engoli-lo. Falavam da goma, mas em nosso entendimento infantil deduzimos que tudo nos faria mal. Então, mastigávamos e cuspíamos até o doce da guloseima. Um sofrimento para os “pobres diabos”.
Mastigar era a principal atividade destas festas. Além dos chicletes e das comidas vaiadas, tinha uma brincadeira em que duas crianças, uma em frente a outra, tinham que mastigar um barbante incessantemente, acumulando-o dentro da boca, até conseguir chegar ao brinquedo que ficava na ponta. Quem alcançasse primeiro ficava com o prêmio. Que nojinho!!! E pensar que já fui campeã no quesito “comer barbante”. O chiclete cuspia, mas o barbante de maneira alguma.
Ir e voltar da escola era outra aventura. Chutava a poeira, conversava, chutava a poeira, brincava, chutava a poeira, apostava pequenas corridas, chutava a poeira, levava uns coques de uma vizinha mais velha. Quando chovia os outros meninos brincavam na enxurrada e pisavam no barro macio. Meu pai não deixava. Fazia questão de me levar e buscar nos ombros. Só fui me aventurar na chuva depois de bem grandinha durante as férias de verão. Uma maravilha de peraltice!
Aprendi a ler e a escrever rapidamente, tão rápido quanto foi minha passagem por esta escola. Logo depois do primeiro ano foi morar em Juiz de Fora e estudar em uma escola enorme, maior ainda do que o mundo que eu supunha existir quando Ana Lúcia contava histórias. Minha vida escolar mudou e teve mais baixos de que altos, mas isto é história para uma outra hora.
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