29 de maio de 2007

Leilinha???!!!

Muitos dos visitantes deste blog já me conhecem. Mesmo que apenas profissionalmente. Professora blogueira, adepta do uso das tecnologias na educação e com uma queda por pesquisar temas de cunho social. O que talvez ninguém ainda saiba é que tenho uma larga experiência com crianças Down. Surpresos?! É mesmo para estarem. Minha experiência é remota. OPA!!!!! Nem tanto assim!
Aos oito anos, quando fui morar em Juiz de Fora conheci Leilinha, menina Down. Brinquei com ela até os quatorze, idade limite, estipulada por ela, para sermos suas amigas. Ter Leilinha como amiga era o sonho de todas as meninas de minha rua. Ela tinha todos os brinquedos desejados por crianças desta idade: vareta, bingo, quebra-cabeças, banco-imobiliário, dama, ludo. Além disso, em seus aniversários, ela sempre fazia sete anos, era como entrar na casa que os irmãos Joãozinho e Maria encontraram na floresta. Guloseimas para semanas, e o que não agüentávamos comer, D. Geni, mãe de Leilinha, deixava-nos levar para casa. Diante de tantos atrativos, nós interesseiras que éramos, acreditávamos que estes eram os reais motivos que nos atraiam. Passávamos tardes inteiras em companhia de Leilinha, que infelizmente não ia escola, mas gostava muito de brincar de “aulinha”, onde sempre era a professora. Eram nestes momentos que aprendíamos a respeitar e admirar as diferenças, a valorizar o carinho e uma grande amizade, a ser solidários respeitando os limites de nossa amiga que não podia participar de todas as brincadeiras, principalmente as de rua, além de outros valores que nem percebíamos que adquiríamos com ela. A única certeza que tínhamos era que quando chegássemos aos quatorze a brincadeira acabava. Ela não ia nos dar mais o prazer de sua companhia, pois precisava indicar a outras crianças os caminhos que só ela conhecia.
Leilinha voltou a morar com seus amigos Anjos há aproximadamente treze anos. Só fiquei sabendo dois anos depois. Na época já morava em Cataguases e há muito não brincava com minha amiga.
Contei esta história para ressaltar o trabalho de instituições e professores que procuram independente de ajudas governamentais, maneiras de promover a inclusão de crianças e adultos que por um motivo ou outro têm seu aprendizado prejudicado. Aqui, no Instituto Francisca de Souza Peixoto, temos o projeto “Inclusão sem Barreiras”, coordenado pela professora Letícia Ribeiro, que visa capacitar professores para receberem crianças com necessidades especiais. Profissionais voluntários: fonoaudiólogos, psicólogos, professores são quem ministram os cursos. Na Biblioteca Digital aprendemos a usar o Dosvox com um amigo cego, José Márcio, para repassar aos que precisarem. Samantha, menina Down apaixonante, carinhosa e inteligente, chegou de mansinho aos nove anos e não nos deixou mais. Contagiou Marli Fiorentin, professora gaúcha, que lá das Serras faz sua parte disponibilizando no blog Síndrome de Down o resultado de seus estudos sobre Inclusão e Tecnologias para portadores de Síndrome de Down. Para aqueles professores de todo canto que procuram maneiras de esclarecer suas dúvidas e se inspirar é uma ótima fonte. Apesar de lentas, tenho também confiança nas iniciativas governamentais que muito acrescentam na preparação dos profissionais da educação para receberem nossas crianças especiais.
Para Leilinha, minha primeira professora da “disciplina Inclusão”, meu sincero agradecimento, mesmo que tardio, por tudo que me ensinou. Sinto saudades!

17 comentários:

Marli Fiorentin disse...

Querida amiga!

Obrigada pela oportunidade de viver essa experiência. Parabéns pelo trabalho lindo que você e seus colegas fazem ali em Cataguases. Oxalá tenhamos isso em todas as escolas públicas do país. Beijos!

Sindy disse...

Andrea querida! Lindo depoimento! Estou emocionada com sua experiência... Quem dera todos pudessem viver histórias como a sua e conviver com as diferenças de uma forma tão bela. Sei que precisamos estudar muito e conhecer mais sobre as pessoas (todas elas, pois todos temos alguma necessidade especial!), mas nada se compara com a vivência. E se não temos a possibilidade de conviver com pessoas especiais como a Leilinha, aprendemos muito com depoimentos como o seu. Obrigada por compartilhar esta experiência
Bjs no coração

Anônimo disse...

Andrea, parabéns pelo seu trabalho. Ficamos encantadas com o seu depoimento. Abraços Rita e Daniela.

Anônimo disse...

Andréa amiga querida! Vc é mesmo uma caixa de surpresas! Cada dia vc nos mostra coisas diferentes, interessantes,q nos enriquecem muito.Não sei como vc consegue tempo para realizar tantos projetos...Q Jesus possa abençoa-la, iluminando-a cada dia mais!

Anônimo disse...

Andrea, ficamos encantada com o depoimento. Leninha é mesmo um anjo. Mas aqui na Terra ainda temos que cuidar de muitos anjinhos, daí a necessidade de estarmos nos aperfeiçoando, para auxiliar os anjinhos que passarem por nosso caminho.
Seu trabalho é brilhante!
Abraços de Clébia e Joana

Anônimo disse...

Andréia,

Adorei o seu depoimento e fiquei muito emocionada ao saber que você possui esta sensibilidade no trato com pessoas com deficiências. Eu tenho um tio com 37 anos portador da Síndrome de Down e trabalhei por 17 anos na APAE de Cataguases, experiência não falta, mas é necessário ter muito amor para atuar nesta área. Sucesso pra você.
Um abraço.
Alessandra Neves Vieira Menezes

Anônimo disse...

Boa Noite
Leilinha

Tive a oportunidade de conhecer sua História e com ela fiquei emocionada ao perceber como lidar com esta diferença e saber que não tem barreiras para lidar com elas.

Anônimo disse...

Andrea,fala-se muito em inclusão,mas nem todos estão preparados para conviver com as diferenças,seu depoimento nos enriqueceu muito, e nos disperta para a necessidade de como ainda precisamos aprender muito.QUE DEUS ILUMINE SEU CAMINHO.
GEISSIANE E CARLA

Anônimo disse...

Andrea, eu sou professora do CAAM, um centro de alfabetização de Jovens e adultos que possui alunos especiais.
Mais do que ensinei, eu aprendi, e tenho certeza de que hoje sou outra pessoa graças a convivência de pessoas extraordinárias que, sabem e, me ensinaram o verdadeiro valor da vida!
Você relatou a sua experiência significante e, é isso! Com eles aprendemos valores essenciais de um mundo mais humano e especial de que todos nós estamos precisando!
Beijos e seja bem vinda para troca de experiências no nosso blog: http://anaeluciana.wordpress.com
LUZ E VIDA para você!

Fátima Campilho disse...

Belo depoimento! Sempre tive um carinho especial pelo meu amigo down Gugu hoje com trinta anos.
Leia o comentário que deixei no post do dia 27 de março.
Abraços.

Anônimo disse...

Oi, tia Andréa
Sabia que gostei muito de seu texto? Ele fez em homenagem a sua amiga Leilinha, espero que quando for encontra com os Anjos (e que isso seja daqui um longo, muito longo tempo) encontre com ela e mate suas saudades.
Um beijo
Mariana

Andrea Toledo disse...

Queridos,amigos, os que são bem próximos, os que estão longe mas dentro do coração e aos que acabo de conhecer. Escrever sobre minha amiga Leilinha me deu uma satisfação tremenda, só não sabia que teria esta maravilhosa aceitação. Minha amiguinha vem me trazendo alegrias até hoje. Beijo grande e obrigada a todos pelo carinho.

Elis Zampieri disse...

Olá Andréa! Sabemos nós que temos o prazer de conhecer ou trabalhar com pessoas especiais o quanto esssa vivência é enriquecedora e o quanto nos torna mais humanos com esta experìência. Trabalho há cinco anos em uma escola especial de SC e tento auxiliar meus alunos na conquista dos seus direitos e da sua cidadania, mas estou certa que quem ganhou mais nessa caminhada fui eu mesma. É uma tarefa extremamente gratificante. Também fiz uma postagem no blog fazendo algumas reflexões a respeito da "excepcionalidade". Dá uma passada por lá! E parabéns pelo seu depoimento, acho que realmente ainda temos muito a aprender com as diferenças. Um abraço, profe Elisangela.

Andrea Toledo disse...

Concordo plenamente com você, Elisângela. Por mais que façamos por nossos alunos, acredito que quem ganha mais com a convivência somos nós. Eles sempre tem muito mais a oferecer.
com certeza irei conhecer seu blog.
Andrea Toledo

Luis disse...

Esse texto me deixo muito emocionado. Tenho alguma experiência com crianças que possuem necessidades especiais, mas sem comparação. Gostei do seu relato e acredito ser esse o processo. Mas, talvez eu também me identifique um pouco com esses trabalhos pelo fato de ser estrabico, e ter passado por todo um processo para me aceitar como sou. Tenho muitos amigos Down. E uma aluna.E isso para mim é um aprendizado a cada dia. Descobri que tenho muito a aprender com eles, principalmente a alegria de viver.

Abração.

Teresa Pombo Pereira disse...

Obrigada pelo testemunho! Desde o inicio da carreira que tenho recebido alunos com necessidades educativas especiais e a sua inclusão é mto gratificante. Escrevi algo sobre isso e vou deixar na lista. Um abraço!

Andrea Toledo disse...

Luis Carlos e prof. Teresa, obrigada pela visita e pelos testemunhos. O que achei mais importante depois desta postagem foi conhecer tanta gente bacana que tem feito tanto por nossos amiguinhos. Prof. Teresa, estou aguardando anciosa por seu texto.

Andrea