17 de novembro de 2009

Memória Viva da Cultura de Além Paraíba e Região


Várias ações têm sido realizadas na Zona da Mata Mineira em prol da cultura, o que confere às suas políticas públicas patamar elevado. Um exemplo disto é o projeto “Memória Viva da Cultura de Além Paraíba e Região”. Trata-se de iniciativa ímpar do Diretor de Cultura, Pedro Augusto Rocha Costa, através da Secretaria de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo e do Conselho Municipal de Cultura da cidade. O projeto visa resgatar e registrar a memória da cultura na região através de entrevistas com seus artistas, documentadas em primeiro momento em vídeo e em um futuro próximo transformadas em livro.
O projeto será realizado através de uma série de entrevistas mensais, com três artistas dos mais diversificados segmentos. Atores, escultores, artistas plásticos, músicos, artesãos, dançarinos, mestre na arte culinária, contadores de história, dentre outros não menos importantes terão a oportunidade de apresentar seus trabalhos e tê-los documentados.
As atividades tiveram início no dia 13 de Novembro de 2009 com uma conversa intermediada por Paulo Rocha, radialista local, entre o prefeito da cidade Wolney Freitas, o escultor José Heitor da Silva, o ator e diretor Gillray Coutinho e a pesquisadora de políticas públicas de cultura, Andrea Toledo.
Andrea Toledo deu início ao processo apresentando sua pesquisa de Mestrado em que fez um mapeamento das instituições promotoras de cultura na Zona da Mata Mineira. Os dados reunidos pela pesquisadora apontam para conclusões que podem ser assim sumariadas destacando os pontos que se considerou de relevância a região: há um crescimento notório na criação de instituições culturais a partir de 1999; as prefeituras são as principais apoiadoras da cultura, exceção feita à cidade de Cataguases; entre as principais carências institucionais estão a falta de verbas, infraestrutura e pessoal qualificado; o marketing cultural é usado por metade das instituições; existe carência de colaboradores com formação superior e os cursos de capacitação oferecidos não levam em conta a atividade que exercem; procura-se dar apoio a diversificados gêneros sócio-culturais; o percentual de beneficiados é significativo; o público alvo possui faixa etária e características distintas, no entanto são nos jovens e na comunidade que as instituições concentram suas atenções quando criam seus projetos.
Nas políticas públicas oferecidas às cidades com menos de 40.000 habitantes a pesquisadora localizou projetos de relevância para a cultura, que também movimentam a economia local. Segundo Andréa, a importância destas iniciativas está no fato de que, além de proporcionarem conhecimento, diversão e entretenimento, têm importante papel no desenvolvimento humano, social e econômico.
Sobre o trabalho desenvolvido pelas instituições mantidas por empresas privadas na região, que tem entre as principais apoiadoras à cultura a Companhia Industrial Cataguases, o Grupo Energisa e o Grupo Química, Cataguases é a cidade que mais se beneficia deste modelo de política pública de cultura, e é devido a este fato que se encontra entre as principais cidades que promovem a cultura na região. Andréa afirmou que apesar das críticas de que as empresas privadas devam contribuir mais com recursos próprios e não apenas através de isenção fiscal, o que acontece em Cataguases é exceção, faz a diferença no desenvolvimento de projetos culturais e deve servir de modelo para outras corporações. “A empresa que se mobiliza no apoio a projetos culturais traz benefícios para a comunidade onde está inserida, promove sua marca e todos se beneficiam”.
Andréa apontou ainda para características peculiares da cultura das seis cidades de maior representatividade em políticas públicas na região - Além Paraíba, Cataguases, Juiz de Fora, Leopoldina, Muriaé e Ubá - e apresentou os esforços na sua promoção entre os munícipes. “É visível e notória a força da produção cultural nas localidades e entre os principais motivos para o sucesso das ações estão gestores comprometidos, leis de incentivo municipais, estadual e federal e o empenho de empresas locais.”
No que se refere especificamente ao trabalho de desenvolvido em Além Paraíba destacou o investimento em cultura realizado pela Prefeitura, tanto no que se refere à verba anual fixa, quanto na destinada à reforma do Cine Teatro Brasil, por exemplo, que recebeu do cofre público municipal, em 2008, o montante de R$1.500.000,00. Além deste, fez referência ao trabalho do Pedro Costa que para sanar problemas de todas as ordens se desdobra, e faz desde a arte e os textos dos panfletos de divulgação das ações da secretaria, até curso para construção de teatro de bonecos objetivando se tornar disseminador da arte entre os concidadãos.
Quanto ao futuro das políticas públicas culturais na Zona da Mata Mineira, a pesquisadora acredita que a preservação patrimonial, o folclore, o artesanato, o teatro, as artes plásticas e visuais são as que terão maior incentivo. “A tendência é que as instituições já existentes cresçam e que novas sejam criadas através das leis de incentivo, que passam alcançar o interior do Estado, e do poder público.” No entanto, lembrou também que para que obtenham sucesso e atinjam seus objetivos serão necessários investimentos imateriais, como a capacitação de seus gestores e colaboradores e a conscientização de políticos e da comunidade local sobre a importância das produções de bens e serviços culturais, destacando que estas devem ser continuadas e trabalhem a diversidade.
Com sua fala, Andréa demonstrou acreditar que para uma sociedade enriquecer é preciso que as pessoas sejam cultas; que o país será mais rico quanto melhor forem as pessoas; que a cultura é fundamental para o desenvolvimento da sociedade; e que não há desenvolvimento econômico que menospreze, que agrida a tradição cultural; e que só o contato com uma obra de arte, a literatura ou qualquer outra manifestação cultural faz repensar, enriquece o indivíduo.
O segundo a apresentar seu trabalho foi o ator e diretor Gillray Coutinho. Reconhecido internacionalmente por seus trabalhos na televisão, no teatro e no cinema, o alemparaibano teve para isto que “atravessar a ponte” e buscar o sucesso em outras margens. Fato que a gestão atual quer evitar promovendo cultura de qualidade e dando oportunidade aos conterrâneos do artista para que obtenham sucesso sem precisar deixar a cidade.
Gillray relatou sua brilhante trajetória profissional desde o tempo em que ainda em Além Paraíba, promovia com seus amigos adolescentes, festivais de teatro sem ter como obter verbas para a premiação. Um dos motivos para que isto acontecesse, disse o ator, era por o poder público da época desconhecer a importância de valorizar a cultura, pouco apoiar os projetos dos jovens. Neste momento aproveita para destacar a atuação da gestão atual na promoção da cultura.
Gil, como é carinhosamente chamado por seus conterrâneos, saiu de Além Paraíba para estudar veterinária, mas a veia artística que já o dominava deste as brincadeiras de infância o fez optar pelos palcos.
Na televisão, participou da novela "Negócio da China" (2009), do seriado "Casos e Acasos" (2008), do quadro "Super Sincero" exibido pelo Programa "Fantástico" (2008), da minissérie "JK" (2006), e da novela "Cabocla" (2004). No cinema, participou do filme "Meu Nome Não é Johnny" (2008) e no teatro atuou nas peças "Hamlet" (2008), "O Púcaro Búlgaro" (2006), "O Que Diz Molero" (2003), "Estatuto de Gafieira" (2005), "Amorzinho" (1998), "Novas Histórias do Paraíso" (1996), "Dança do Homem com a Mala e Outras Histórias Escolhidas" (1995), "Completamente Só" (1992), "Tiradentes - Inconfidência no Rio" (1991) e "A Mulher Carioca aos 22 Anos" (1990). Este ano o ator participa dos seriados "Malhação" e "Aline", pela Rede Globo.
Gillray Coutinho foi premiado como melhor ator na peça “O Púcaro Búlgaro” pela Eletrobras e apresentou-se em diversas capitais brasileiras, além de países da América Latina e Europa.
Como forma de valorizar e incentivar a cultura em sua cidade natal Gilrray ministra atualmente workshops sobre políticas públicas e participa de eventos em prol da cultura em Além Paraíba.
O escultor José Heitor da Silva fechou com magnificência as apresentações da noite. Além de escultor, José Heitor é poeta e, talvez ainda não saiba um grande contador de histórias. E foi através deste dom que contou sua história encantando todos os presentes. Disse que ainda pequeno já buscava descobrir qual o seu talento e entre tantos outros que “testou”, tentou ser jogador de futebol como volante marcando o prefeito Wolney Freitas, para sorte dos amantes da arte, não obtendo sucesso. O talento de escultor foi descoberto em uma noite chuvosa quando ainda um jovem garoto, sozinho em sua casa, começou a fazer escultura de crianças para lhe fazerem companhia e aplacarem o medo.
Depois do ocorrido começou a se divertir esculpindo os amigos reais durante as brincadeiras, até que incentivado por uma professora passou a aperfeiçoar os traços utilizando madeira. José Heitor desde então, constrói e reforma imagens sacras e imagens de personagens da cidade em tamanho natural como a famosa “Carijó”, esculpida por ocasião do centenário da cidade, em 1983.
José Heitor é mais um artista alemparaibano que teve que “atravessar a ponte” para ter seu trabalho reconhecido e foi no posto Cotril que viu sua arte ganhar o país através da BR116. Contou que levava suas esculturas para expor no posto de gasolina e lá ficava esperando que surgisse um apreciador. Rosário Fusco, poeta cataguasense e um dos criadores da Revista Verde, foi um dos que reconheceram o valor de sua arte ajudando a divulgá-la.
Quando fala da comercialização de suas esculturas, José Heitor é enfático: “Minhas esculturas são como filhos tem valor, mas não tem preço. Então, quando exponho com o intuito de comercializá-las peço aos donos das galerias que deem os preços. Não posso vender meus filhos”.
O projeto “Memória Viva da Cultura de Além Paraíba e Região” registrará o trabalho de 3 artistas por mês e não tem número limitado para entrevista e tem chances de ter vida longa se depender do talento mineiro.

Fonte: Andréa Vicente Toledo Abreu, pesquisa “O Cultivo de Sonhos: uma cartografia das políticas públicas de cultura da Zona da Mata Mineira”, Mestrado em Ciências Sociais, UFJF, 2009.
A Casa – Casa-Museu do Objeto Brasileiro - Ergarte
Dramaturgia Brasileira – Gillray Coutinho

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