6 de agosto de 2010

Rio

Ultimamente tenho gostado muito de rio. Então uma homenagem do amigo querido, Fernando Cesário, ao Rio Pombar, que recorta nossa cidade ilustrado por mim e novos amigos.



“À meia-noite, o rio dorme. Dorme resumido, uns dois minutos, ou até menos, mas é
certo que dorme. Todos os rios se aquietam, à essa hora e, durante seu sono, tudo
pára: as cachoeiras deixam de cair, silenciosas, a correnteza estagna e os peixes se
deitam no fundo. A mãe d’água vem para fora pentear os cabelos e as borboletas viram
beija-flor. Os que morreram afogados saem do fundo, para serem sepultados. E há o
mais profundo do silêncio, que só não se pode ouvir porque também todos adormecem,
todos nós adormecemos, e cessamos de viver um instante."



"Sossego do rio no lento deslizar. As garças desciam gazeando pelo vale, no seu
imperturbável cortejo, meneando as asas tão lentas, que nem pareciam necessárias
para sustê-las no ar. Ensinavam a direção, fugindo da escuridão. Recolhiam-se pelos
vales, airosas, brancas-de-giz, envergando as asas para cima e para baixo, com
leveza, planando, porte esguio e alinhado, ossinhos resguardados por um nada de
carne, pousando nos dois ingazeiros, na foz do Meia Pataca (junção das águas; onde
elas rodopiam), a ramaria desdobrada das centenárias árvores, debaixo da pedreira,
pintada de cal das garças, nos fins de tarde.”

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