1 de setembro de 2010

A escola

Escrever sobre lembranças infantis não é tarefa fácil. Mas, fiquei com vontade de fazê-lo depois que estive em frente à primeira escola que estudei e a olhei com um pouco mais de atenção. Uma certa desolação me invadiu devido ao abandono em que se encontra. Há 20 anos as crianças deixaram de estudar lá para serem transportadas para as escolas do município mais próximo. Não sei o quanto isto traz de benefícios ou prejuízos para os alunos, mas também não importa porque não quero escrever sobre isto. Só desejo manter viva uma curta história que a envolve antes que ela desapareça de vez.
Quando tinha seis anos fui para a escola. Para a época e a região onde morava ainda era muito nova para a empreitada, mas como não deixava minha mãe em paz querendo aprender a ler ela conseguiu que a professora, minha prima, me aceitasse. Ia para lá como se estivesse indo para um parque de diversões. Não usávamos uniformes, o que preservava nossas características individuais. Éramos todos filhos de lavradores simples em uma comunidade denominada Toledos, pertencente ao município de Piraúba, MG. A escola possuía apenas duas salas de aula, uma para primeira e segunda séries e outra para terceira e quarta.
Ana Lúcia foi minha única professora nesta escola. Achava que ela era a mulher mais linda e bondosa do planeta. Não possuía materiais didáticos diversificados ou qualquer recurso sofisticado, na verdade a escola não possuía nem energia elétrica. Mesmo assim aprendíamos! A professora tinha um dom especial de hipnotizar os alunos e assim colaborar com nossa aprendizagem. Para ensinar nossos nomes escrevia-os em pequenos cones feitos de papel ofício e colocava-os em nossas mesas para que pudéssemos visualizá-los. Dividia a sala em duas. De um lado os meninos maiores da segunda série e do outro os menores da primeira. Para todos havia formas diversificadas e lúdicas de ensinar, das quais não me lembro mais, mas tenho certeza que foram fundamentais em minha formação e na de meus amigos.
O que me lembro com maior clareza eram os dias de festa. Havia danças, comidas típicas e roupas especiais eram costuradas. Nestes dias comprávamos chicletes em uma vendinha próxima e íamos mastigá-los escondidos atrás da escola. Nossos pais haviam nos dito que eram venenosos e que não podíamos engoli-lo. Falavam da goma, mas em nosso entendimento infantil deduzimos que tudo nos faria mal. Então, mastigávamos e cuspíamos até o doce da guloseima. Um sofrimento para os “pobres diabos”.
Mastigar era a principal atividade destas festas. Além dos chicletes e das comidas vaiadas, tinha uma brincadeira em que duas crianças, uma em frente a outra, tinham que mastigar um barbante incessantemente, acumulando-o dentro da boca, até conseguir chegar ao brinquedo que ficava na ponta. Quem alcançasse primeiro ficava com o prêmio. Que nojinho!!! E pensar que já fui campeã no quesito “comer barbante”. O chiclete cuspia, mas o barbante de maneira alguma.
Ir e voltar da escola era outra aventura. Chutava a poeira, conversava, chutava a poeira, brincava, chutava a poeira, apostava pequenas corridas, chutava a poeira, levava uns coques de uma vizinha mais velha. Quando chovia os outros meninos brincavam na enxurrada e pisavam no barro macio. Meu pai não deixava. Fazia questão de me levar e buscar nos ombros. Só fui me aventurar na chuva depois de bem grandinha durante as férias de verão. Uma maravilha de peraltice!
Aprendi a ler e a escrever rapidamente, tão rápido quanto foi minha passagem por esta escola. Logo depois do primeiro ano foi morar em Juiz de Fora e estudar em uma escola enorme, maior ainda do que o mundo que eu supunha existir quando Ana Lúcia contava histórias. Minha vida escolar mudou e teve mais baixos de que altos, mas isto é história para uma outra hora.

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