31 de agosto de 2010

Envio agora para receber em 2050

Querida, Andrea!

Espero que esta lhe encontre da melhor maneira que a medicina possa proporcionar aos octogenários deste ano. Na verdade não sei como você encontrará esta carta, pois não vou imprimi-la. Ligada as tecnologias que sou a postarei em um blog. Então, as chances de você encontrá-la no fundo de uma gaveta escrita em um papel envelhecido são inexistentes. Já as do blog ter sido extinto são bem possíveis. Portanto, talvez nunca a leia e considero que seja melhor, visto que avaliará seu conteúdo como de extrema infantilidade.
Encontro-me em fase de realização profissional. Terminei mestrado em Ciências Sociais há poucos meses e agora me aventuro pelos caminhos oníricos do audiovisual. Há dez anos capacito professores para o uso das tecnologias na educação. Gosto também de trabalhar com crianças e jovens. São alegres e sonhadores, muito parecidos comigo. Procuro me aproveitar das tecnologias principalmente para incentivar a leitura e a escrita e com isto contribuir com os sonhos destes meninos e meninas.
Minha vida pessoal é tranquila. Minha família me dá incentivo, proteção e amor, portanto não tenho com o que me revoltar. Meus pais já são idosos, mas ainda não me dei conta disto. Considero-os fortes, capazes, independentes e imortais, como os via quando criança. Vivo cercada de amigos e minha vida social é intensa. Gosto de viagens, literatura, cinema, cerveja, bate papo e Beijo. Não gosto de rotina, grosseria, injustiça e de ser contrariada. Tenho medo de perder as pessoas que amo. Como a grande maioria dos profissionais da cultura e da educação falta-me dinheiro, o qual busco com afinco e criatividade. Não sou hipócrita para dizer que ele não me faz falta e admito que ando pouco criativa.
Sei que se você puder ler esta carta estará melhor que muitas pessoas que hoje lhe são queridas. Muitos deles haverão partido e deixado um vazio em sua vida. A qual, suponho estaria oca não fosse a capacidade que o tempo nos dá de o preenchermos, não substituindo, mas somando. Espero então, que ainda tenha amigos, que possa viajar com eles, que tenha senso de humor, que seu fígado ainda suporte uma cervejinha vez ou outra, que continue frequentando shoppings, que tenha condições de apreciar a leitura e o cinema, que tenha coisas boas para contar, e melhor, pessoas interessadas em escutá-la. E já que optou por não ter filhos, que os jovens te admirem e não se entediem com a sua presença. Que a velhice lhe reserve a beleza da sabedoria e a serenidade para aceitar as limitações.
Espero Andrea, que você tenha realizado muitos sonhos até 2050 e que conserve a alegria de viver e expectativas para o futuro.


Com amor, Andrea!

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